Consórcios anuais e o sequestro de carbono

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Como os consórcios anuais podem contribuir para o sequestro de carbono no solo?

Desde os primórdios da agricultura, a diversificação de espécies em um mesmo espaço tem sido reconhecida como uma estratégia eficaz para maximizar os benefícios dos recursos disponíveis. Os consórcios anuais referem-se a um sistema de cultivo em que duas ou mais espécies agrícolas são plantadas simultaneamente dentro do mesmo ciclo anual. Essa prática é vantajosa, pois permite que plantas com diferentes estruturas, hábitos de crescimento e características fisiológicas interajam, melhorando a eficiência do uso do solo e dos nutrientes (Embrapa, 2021).

Os consórcios anuais são práticas eficientes para sistemas produtivos sustentáveis combinando aumento da produtividade agrícola com benefícios ambientais, incluindo o sequestro de C e mitigação dos impactos das mudanças climáticas.

Isso se deve em parte ao uso de gramíneas e leguminosas consorciadas que promovem vantagens significativas para saúde do solo. A combinação de ambas dentro do sistema produtivo, não apenas fornecem proteção ao solo contra processos erosivos, mas também contribui para intensificação da ciclagem de nutrientes. As leguminosas a exemplo têm potencial de fixação biológica de nitrogênio o que contribui para redução da adubação nitrogenada, contribuindo para redução da emissão do oxido nitroso (Dubeux & Sollenberger et al. 2020). 

Outro ponto é que as raízes das gramíneas exploram camadas subsuperficiais, resultando em uma maior ação exploratória do solo. Além disso, essa sinergia entre as plantas aumenta a biomassa o que resulta em um maior acúmulo de palhada e de melhor qualidade, devido a distinta relação carbono/nitrogênio entre gramíneas e leguminosas. Plantas com diferentes taxas de decomposição (gramíneas e leguminosas) permitem uma liberação gradual de carbono favorecendo o seu acúmulo no solo ao longo do tempo (Calvo et al., 2010).

Além disso, culturas diferentes, principalmente consorciadas, podem favorecer o aumento da produtividade da soja (Moraes, 2019) e seu uso durante a entressafra agrega valor nutritivo ao pasto e potencializa o desempenho dos animais (Wruck et al., 2018). Ressaltando que consórcio de gramíneas com leguminosas forrageiras tropicais não apenas promove alta produtividade com custos reduzidos, mas também contribui para o acúmulo de carbono no solo, atuando como alternativa para o sequestro de carbono atmosférico (Paulino & Teixeira, 2009).

 Os consórcios anuais de segunda safra, em suas diferentes modalidades, vêm sendo estudados há vários anos por pesquisadores da Embrapa, professores universitários e produtores rurais. Entre essas modalidades, destacam-se os consórcios duplos, triplos, quádruplos e até sêxtuplos, os quais podem ser adotados como estratégias dentro dos sistemas agropecuários, dependendo dos objetivos produtivos e ambientais almejados.

Os consórcios mais comuns incluem o cultivo de milho e braquiárias, amplamente adotado na região Centro-Oeste (Ceccon et al., 2013). No entanto, outras culturas, como feijão-caupi (Wruck et al., 2018), estilosantes (Epifanio et al., 2019) e diferentes espécies de crotalárias (Souza et al., 2019), também podem ser integradas ao sistema.

Nos consórcios triplos, é possível combinar espécies como girassol, feijão-guandu anão, além da Brachiaria, proporcionando maior diversificação e benefícios ao solo. Já os consórcios mais complexos, como os quádruplos, quíntuplos e sêxtuplos, podem incluir espécies como trigo-mourisco e nabo forrageiro, sendo este último uma opção viável para a alimentação de bovinos em sistemas integrados. Além disso, o nabo forrageiro contribui significativamente para a ciclagem de nutrientes e a descompactação do solo (Wruck et al., 2020)

Culturas como milheto e sorgo também são alternativas viáveis para maior diversidade funcional agregando valor ao sistema produtivo. Além de melhorar a rentabilidade, essas espécies promovem a formação de palhada na superfície do solo, favorecendo o acúmulo de carbono no solo. Em estudo divulgado pela Embrapa (2020), o uso de consórcios favorece o incremento de carbono no solo, com aporte de até 600 kg de carbono orgânico por hectare, isso se deve a um acúmulo significativo de carbono no solo devido à biomassa gerada pelas culturas, contribuindo para a sustentabilidade do sistema produtivo.  

Portanto é nítido o uso de práticas regenerativas como os consórcios anuais que não só contribuem para saúde do solo e melhoria da produtividade da cultura principal, mas também que ao mesmo tempo desempenha papel no sequestro de carbono no solo.

 

REFERÊNCIAS BIBIOGRÁFICAS

CALVO, C.L.; FOLONI, J.S.S.; BRANCALIÃO, S.R. Produtividade de fitomassa e relação C/N de monocultivos e consórcios de guandu-anão, milheto e sorgo em três épocas de corte. Bragantia, v.69, p.77–86, 2010. DOI: 10.1590/S0006-87052010000100011.

CECCON, G. Consórcio milho-braquiária. Brasília: Embrapa Agropecuária Oeste, 2013. 175p.

DUBEUX JR, J. C., & SOLLENBERGER, L. E. (2020). Nutrient Cycling in Grazed Pastures. In Management Strategies for Sustainable Cattle Production in Southern Pastures (pp. 59-75). Academic Press

EMBRAPA. Consorciação de culturas. Portal Embrapa. Disponível em: https://www.embrapa.br/en/agencia-de-informacao-tecnologica/tematicas/sistema-plantio-direto/fazendo-certo/planejando-e-executando/fase-de-implantacao/organizando-o-sistema-produtivo/consorciacao-de-culturas. Acesso em: 08 mar. 2025.

EMBRAPA. Consórcios forrageiros usados em segunda safra melhoram o solo e elevam produtividade de soja. 2022. Disponível em: https://www.embrapa.br/en/busca-de-noticias/-/noticia/67896938/consorcios-forrageiros-usados-em-segunda-safra-melhoram-o-solo-e-elevam-produtividade-de-soja. Acesso em: 08 mar. 2025.

EPIFANIO, P. S.; COSTA, K. A. P.; COSTA, E. S.; SOUZA, W. F.; TEIXEIRA, D. A. A.; SILVA, J. T.; AQUINO, M. M. Productive and nutritional characteristics of Brachiaria brizantha cultivars intercropped with Stylosanthes cv. Campo Grande in different forage systems. Crop and Pasture Science, v.70, p.718–729, 2019. DOI: 10.1071/CP18447.

MORAES, J.M.A.S. Consórcio com leguminosas em sistemas integrados de produção agropecuária melhora atributos de solo e incrementa produtividade da soja. 2019. 35p. Universidade Federal de Mato Grosso.

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SIMIONI, T. A.; GOMES, F. J.; TEIXEIRA, U. H. G.; FERNANDES, G. A.; BOTINI, L. A.; MOUSQUER, C. J.; CASTRO, W. J. R. de; HOFFMANN, A. Potencialidade da consorciação de gramíneas e leguminosas forrageiras em pastagens tropicais. Pubvet, 8(13), 2015. DOI: 10.22256/pubvet.v8n13.1742.

SOUZA, R. T. de; VALADÃO, F. C. de A.; VALADÃO JÚNIOR, D. D.; GUIMARÃES, P. R.; PAULA, V. R. R. de. Sistemas de consórcio entre milho e crotalária. Semina: Ciências Agrárias, 40(4), p.1455–1468, 2019. DOI: 10.5433/1679-0359.2019v40n4p1455.

WRUCK, F. J.; OLIVEIRA JUNIOR, O.L.; PETERS, V.J.; PEDREIRA, B.C.; LEMOS, B.S. Sistema Gravataí: Consórcio de feijão-caupi com braquiárias para segunda safra. Rondonópolis, MT: Embrapa Agrossilvipastoril, 2018.

WRUCK, F. J.; PEDREIRA, B. C. e; OLIVEIRA JUNIOR, O. L. de; BEHLING NETO, A.; DOMICIANO, L. F. Integração lavoura-pecuária: consórcios forrageiros na entressafra. Anuário de Pesquisas Agricultura, v.3, p.25-34, 2020.

Published on: março 17, 2025